Se antes as pessoas passavam a vida inteira atuando num único ofício, hoje muita gente não hesita em experimentar diferentes profissões. Além do plano A, muitas colocam em prática o B e o C ao longo da vida. É o que está acontecendo com Yukio Kuroda Na- beshima, 30 anos, que após se for- mar em engenharia de alimentos na Unicamp, fazer MBA em gestão de negócios e trabalhar na área de engenharia, tenta outra profissão: a de massoterapeuta. “O meu trabalho era interessante, mas sentia neces- sidade de realizar algo que fizesse a diferença na minha existência e na vida de outras pessoas”, explica.

Em 2016, após passar por um sé- rio problema de saúde, ele percebeu que precisava mudar, se reinventar, não só pessoalmente como profis- sionalmente. “Enquanto trabalha- va com a engenharia de alimentos, passei a fazer cursos de acupuntura, massoterapia e reiki. Agora larguei meu antigo emprego na área de en- genharia para me dedicar exclusiva- mente a esse novo sonho. Me prepa- rei bem para isso e recebi todo apoio da família”, comemora.

O processo envolveu muitas modificações, horas de dedicação a no- vos estudos e vontade de começar de novo. “Antes de mudar de profissão, passei por transformações internas e externas. Emagreci 30 quilos, passei a escolher o tipo de alimento que co- loco no prato e comecei a fazer ativi- dade física. Hoje, quando atendo al- guém com dor no consultório e vejo que a pessoa sai melhor, me sinto totalmente realizado. Minha geração quer fazer algo que faça a diferença no mundo, mas para isso é preciso correr atrás do sonho. Bem diferente dos nossos pais, tios e avós, que pas- savam a vida toda na mesma profis- são, muitas vezes infelizes”, destaca.

Outra engenheira que mudou o rumo de sua vida foi Raissa Nogueira Arcuri, de 31 anos. Nascida em Fortaleza, ela foi para São Paulo estudar aos 20 anos. Quando chegou na capi- tal, caiu a ficha que queria outro cur- so. Mas, como a família é formada por médicos e advogados, no primeiro momento não teve muito apoio para a mudança. “Me comprometi a termi- nar engenharia e depois de formada passei sete anos trabalhando na área. Mas, com o salário que recebia inves- tia em um curso de pós-graduação na área de negócios de moda. Cheguei a montar uma loja virtual que me trouxe um grande aprendizado. De- pois resolvi me aperfeiçoar na área de consultoria de moda, que é realmen- te o que gosto de fazer. “Hoje, moro em Vinhedo e trabalho com o que gosto. Me especializei em consultoria e imagem e tenho plena convicção que estou na carreira certa”, diz.

De Campinas, a consultora  de programa DeRose Life Consulting Vanise Perez, 42 anos, lembra que num curto período de tempo a inte- ligência artificial substituirá 65% das carreiras. “Muitas coisas deixarão de existir em um curto espaço de tem- po. Há estudos que comprovam que no futuro as pessoas terão ao menos cinco carreiras ao longo da vida. Isso mudará tanto para quem vai escolher uma profissão quanto para quem já está atuando. E aí entra a capacidade de se reinventar, de ressignificar essa carreira”, destaca.

"Segundo informações do Fórum Eco- nômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, em 2017, a estimativa é que 65% das crianças em idade escolar vão trabalhar em empregos que ainda não foram criados."

Ela conta que mudar de carreira também faz parte da sua trajetória. Depois de cursar física na Universida- de Federal do Paraná, e perceber que isso não traria a satisfação pessoal que tanto queria, ela foi buscar respostas para suas angústias. “Minha mãe foi professora primária e se sentia reali- zada na profissão. Então, desde muito nova, eu tinha em mente que busca- ria algo que me trouxesse satisfação. No primeiro momento, achei que a física possibilitaria essa experiência, pois poderia ajudar as pessoas evo- luírem. Mas, no mundo acadêmico, percebi que não conseguiria seguir meu propósito. Foi fazendo um curso de autoconhecimento que descobri a necessidade de mudar radicalmente de carreira. Depois dessa experiência pessoal, resolvi empreender e me tor- nei proprietária de uma consultoria que colabora para que as pessoas des- cubram seu propósito de vida e mu- dem de carreira”, diz.

Vanise destaca que muitas pessoas ainda a procuram buscando profissões que podem dar dinheiro, sucesso, fama ou status. “O retorno financeiro ainda é algo bem presen- te na vida das pessoas, mas percebo que os jovens já estão com outra ca- beça, que procuram algo que os sa- tisfaçam, que os façam felizes e úteis para o mundo. Mas de um modo ge- ral, não é o que ocorre com a maio- ria”, constata.

As especialistas em educação Ro- berta Michnick Golinoff e Kathy Hirsh, autoras de Becoming Brilliant – What Science Tells Us about Raising Succes- sful Children (ainda sem tradução no Brasil) alertam que as escolas precisam ensinar os alunos a serem pensadores e empreendedores do futuro. Para elas, mais importante que memorizar é en- sinar comunicar, colaborar, apreender conteúdos, além dos estudantes de- senvolverem pensamento crítico, ino- vação criativa e confiança para arriscar. Com isso, estarão prontos para os de- safios laborais e as transformações que as carreiras e empregos vão passar em um futuro bem próximo.